plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

No Brasil de hoje
Juliana Petermann 
Professora universitária

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Eu nasci em outro país. Num Brasil vivo. No país que dava um jeitinho de sobreviver. Um país em que a natureza ajudava e que a nossa malemolência nos mantinha firmes. Hoje, a alegria brasileira se converteu em dor. Nem sobrevivemos mais e chegamos ao ponto em que não deveríamos e nem gostaríamos de ter chego: estamos de luto. Um país inteiro de luto. Dificilmente, exista alguém no Brasil que não tenha perdido um outro alguém. Mãe, pai, parente, um amigo, colega de trabalho, a amiga de uma amiga, um ídolo. Estamos de luto pelo nosso povo. Pelas nossas quase 400 mil mortes. E precisamos mesmo estar.

SE MORRE MAIS E SE VIVE MENOS

Na última semana, acordamos com a notícia: no Brasil, mais se morre do que se nasce. Pela primeira vez na história, o número de nascimentos é menor do que o de mortes, conforme dados coletados no início de abril, na região sudeste, pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais. Outro dado: no Brasil de hoje, se vive menos. De acordo com um estudo feito em Harvard, a expectativa de vida do povo brasileiro foi reduzida, em quase, dois anos. Perdemos todos. Perdemos pessoas, anos de vida, perdemos encontros, nossas crianças perderam a convivência na escola, avós e avôs perderam a oportunidade de acompanhar o crescimento de netos e netas. Perdemos tanto. Que não percamos a capacidade de nos sensibilizar, de ficar incrédulos, de chorar com a tragédia que bate todo dia na nossa porta. Precisamos remoer essa dor e entender que não é página virada, não é bola para frente.

O PAÍS DO FUTEBOL ESTÁ PERDENDO O JOGO

Estamos perdendo o jogo e caindo. Caindo na conversa de quem quer nos colocar uns contra os outros. Desperdiçamos o restinho de gasolina cara que temos no nosso tanque para disputar entre a gente, como se fosse uma rivalidade de torcidas organizadas entre quem quer abrir e quem quer fechar o comércio, abrir ou fechar escola. Como se alguém em sã consciência pudesse desejar comércio e escola fechada só por desejar: é comprovado, cientificamente, que medidas restritivas reduzem o contágio. Mas essa não é uma questão individual: nos digladiamos na arena enquanto quem deveria cuidar da gente nos atira aos leões e ri do alto da arquibancada, ameaçando golpismos. Eu nasci em outro Brasil. Num país em que se vivia mais do que se morria. Nunca foi um berço esplêndido, mas no Brasil de hoje mais se morre do que se nasce, do que se vive. Que possamos renascer: aprender com nossos erros, respeitar a memória dos nossos mortos e reescrever a nossa história enquanto país.

Sapatos e bolsas
Eni Celidonio 
Professora universitária

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Eu não sei que tipo de magia existe em comprar sapatos. Juro que, às vezes, acredito que cada mulher tem dentro de si um complexo de centopeia (Que palavra que fica horrorosa sem acento!). E tem aquelas que ficam alucinadas numa loja de sapatos, e ficam ensandecidas com bolsas. Gente! Tive uma amiga que colecionava todas as bolsas possíveis e imaginárias, de todos os tamanhos e todas as cores. Não tinha muita roupa, é verdade, mas bolsas... Era um escândalo!

Lembro de uma viagem que ela fez a Milão e comprou uma bolsa que valia quase um carro popular. Chegou com aquele troféu que mostrava pra todo mundo, orgulhosa, e me saiu com essa: "agora vou comprar uma falsificação pra poder andar por aí com ela, porque não vou sair com uma original... É perigoso!" ... Sério, ela tratava a bolsa como se fosse um colar de diamantes com safiras! Pelo amor de Deus! Ter uma bolsa sem poder usar, pode isso, Arnaldo?

Nada contra! Cada um sabe o que deve ou não comprar, mas eu não entendo a vantagem de ter uma bolsa para usar a cópia. De repente, sabe-se lá se o cara que estava com ela no jantar da Clarice era o original ou a cópia? Vai saber?

Uma outra conhecida comprou uma tal de Fendi, que gente, sério, quando vi a tal da maravilha me lembrei dos forros dos colchões da casa da minha avó: bege com uns desenhos pretos, um horror, mas era de marca, valia a pena, me disse ela. Então tá...

Eu jamais poderia ter uma bolsa dessas. Primeiro, porque não tenho grana pra isso; segundo porque minhas bolsas sofrem todo o tipo de maldade: jogo no chão do carro, às vezes, uma caneta resolve verter tinta como se fosse um chafariz, já furei uma com uma agulha de crochê vingativa que esqueci no fundo, já molhei com café... Um verdadeiro espanto! Não tenho muita paciência pra tratar bolsa como se fosse filho, não tenho mesmo. Bolsa, pra mim, é pra carregar coisas, de preferência livros. E depois que inventaram as mochilas, que eu levo até computador, é só o que uso.

Mas a maior é de uma amiga querida, que viajou ao exterior e ficou num hotel bem na frente de uma loja da Louis Vuitton. Ela passava e namorava as bolsas, mas os preços eram proibitivos. Mas de repente, como a mulher tem um olhar que acha até agulha em palheiro, ela enxergou uma bolsa preta, linda e se apaixonou: essa até poderia ser comprada, setecentos e sessenta euros...Como não tinha comprado absolutamente nada na viagem, conversou com o marido e ele achou até razoável e foi no hotel pegar a grana. Era uma bolsa muito clean, mas o charme era a alça, larga, toda com o LV em metal dourado. A moça ia tirar a nota e perguntou a minha amiga se ela ia querer aquela alça ou de outra cor. Foi pegar outras opções e tinha dois preços: Adivinha? Setecentos e setenta era o preço da alça, a bolsa era dois mil e novecentos euros! Claro que ela saiu da loja de fininho, prometendo voltar mais tarde...

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